sábado, 23 de fevereiro de 2013

dói-dói

porque é que será que nos custa muito dizer a verdade? ou dizer que não! hoje não me apetece porque quero ficar em casa. hoje não me apetece porque quero ir ao ginásio. ficas muito gorda nessas calças. esse penteado não te favorece. não gosto que abuses de mim. lembras-te naquele dia que só decidias se ias sair se eu fosse? eu sei que estavas pendente se eu levava o carro ou não.

não percebo porque é que as pessoas não gostam de ouvir a verdade. porque é a verdade? porque ficam magoadas? porque a verdade nem sempre é boa de se ouvir. eu sei o que sinto quando me dizem que não gostaram do que eu disse, do que eu fiz, da forma como agi. mas passados cinco segundos passa-me e percebo que só me disseram para da próxima vez eu saber e provavelmente não fazer. ou mesmo fazendo, já sei que incomodo alguém. mas quando salta algum resquício da verdade para fora ficam todos muito indignados. como é que alguém poderá/quererá dizer a verdade? não sou boa mentirosa mas tenho as minhas mentiras. nada de grave. nada que afecte outros. mas também chego a um limite que me pergunto, porque é que tenho de dar desculpas se o que eu estou a pensar é que deveria estar a dizer? para proteger quem? a outra pessoa que provavelmente também me mente? e quando me deixo disso os que estão à minha volta estranham. porque eu calo e engulo e quando começo a "falar" perguntam-me se estou com o período. porque o TPM é desculpa para tudo. claro.

domingo, 17 de fevereiro de 2013

love actually

quinta-feira, no aeroporto internacional do dubai, esperava eu ansiosamente pelo meu pai. aproximadamente uma hora e qualquer coisa e foi tempo suficiente para observar as pessoas que chegavam e as várias reacções que o ser humano tem a essa situação. há sempre os que abraçam e esbracejam até não haver amanhã. é sempre engraçado ouvir os berrinhos e ver os abracinhos - apesar de que, no dubai as coisas são mais contidas. não há cá saltos para o colo. vi um casal de indianos, onde chegou a rapariga, que praticamente não se tocaram mas o contentamento era evidente nos olhos, na expressão e nos sorrisos de orelha a orelha. vi-os um bocado depois de mãos dadas. as mães que chegaram eram maioritariamente indianas e as manifestações acabaram por não ser muito a olho vivo. há os que chegam sem ninguém à espera mas percebem-se os olhares investigadores por alguma cara conhecida. depois há a minha reacção. sinto uma necessidade de ir a correr ter com a pessoa que me está a chegar. há dois anos as incursões ao aeroporto eram demasiado comuns e as saudades sempre tantas que era impossível não dar o pulinho e saltar para o colinho. o meu pai já não me consegue pegar ao colo mas deu para um mega abraço.

as partidas são sempre com aguaceiros. normalmente de manhã, fica logo o meu dia mais nublado e tristonho. ver qualquer pessoa querida a partir custa. ainda mais quando vão voltar para casa. para a minha casa. portanto hoje esperam-se momentos de suspiros profundos e olhares apáticos.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

funny you're the broken one but I'm the one who needed saving


plim plim só na história da carochinha

porque muito que nos esforcemos as coisas nem sempre resultam. nem sempre conseguimos dar o nosso melhor, tomar a melhor decisão, escolher o melhor caminho ou arriscar na melhor oportunidade. podemos achar que o que estamos a fazer na altura está certo mas realizar, daí a um tempo, que não. que aquilo que estávamos a tentar fazer não era bom. nem para nós nem para os outros. mas na altura algum tipo de escudo invisível actimel não nos deixa enfrentar a, muitas vezes, dura e cruel realidade. daí existirem tantas relações pendentes. e quando digo relações digo em qualquer sentido lato que esse termo possa ter. estou cansada. mentalmente cansada de me esforçar, de achar que tenho uma vida banal, uma profissão frustrante, um namorado demasiado sonhador. serei tão ingénua ao ponto de achar que vou fazer a diferença em alguma coisa? achar que no futuro posso contribuir para alguma causa significativa, com impacto e visibilidade? os últimos tempos dizem-me que sim. por isso, porque não pegar nas minhas coisas e dizer adeus à vida que levo? fazer algo melhor dela? no fim das contas, acho que era isso que eu estava a tentar fazer no dubai. ainda não estou convencida. nada mesmo.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

if saint valentines arrow would pierce your heart, you would die

miguel vale de almeida na revista do público deste domingo escreve - com outros - sobre o amor. é antropólogo e tem 52 anos. basicamente fala-nos da forma como o amor contemporâneo modificou a sua estrutura e tem outras intenções. noutros tempo falava-se num amor idílico. as pessoas casavam-se por interesse, por estabilidade, por impostos, para constituir família. hoje em dia juntam-se porque surge uma atracção, uma paixão, um amor. independentemente de terem filhos, do património, do reconhecimento social, da passagem e aquisição do nome, as relações começam e acabam demasiado facilmente. há uma volatilidade naquilo que sentimos e por quem sentimos. há quem diga que a tentação é muita e a facilidade também. mulheres e homens mostram-se mais abertos a novas e diferentes relações e interagem com o amor de forma diferente. claro, há sempre quem ainda tenha relações típicas mas é mais comum vermos as atípicas. pessoas que já não se casam e se juntam em união de facto. que vivem numa relação, cada uma na sua casa, que partilham parceiros, que querem explorar. pessoalmente sou uma pessoa típica no sentido em que, se estou numa relação não estou com mais ninguém. sou atípica porque não aspiro a casar. se acontecer acontece. acho importante as pessoas trabalharem nas suas relações, fugirem à volatilidade. como digo sempre, não sou nenhuma expert, mas tenho uma visão muito clarificada do que é o amor. para além de ser uma forma de confiar e deixar ser confiado, é um reflexo nosso noutra pessoa. se estou com uma pessoa, não preciso de mais ninguém nesse sentido. preciso de amor da família, de amor de amigos. mas aquele amor, de uma só pessoa, o querer cuidar, estar, olhar, escutar, sentir, esse amor traz-me algo que mais nenhum traz. gosto de me sentir única para aquela pessoa e vice-versa. quando esse sentimento desvanece, alguma coisa não está bem.

isto tudo a propósito do dia dos namorados que se aproxima a passos largos e eu não sou grande adepta.

sábado, 9 de fevereiro de 2013

fucked up

quando é que sabemos dizer já chega? quando é que sabemos que atingimos o nosso limite e não queremos mais? uma sensação de saturação? de irritação? de tristeza? como é que sabemos que não é só do momento, uma vontade irracional que nos dá de cair fora e não repetir o mesmo erro? provavelmente somos abordados por estas questões numa base diária. em relação ao que quer que seja. ao nosso parceiro(a), ao nosso trabalho, à nossa área, aos nossos amigos. será que somos mesmo capazes de perceber que já não queremos mais de alguma coisa. quando comemos e ficamos cheios sabemos que já não queremos mais e se quisermos é só gula. há tanto quanto um ser humano pode comer e atingido o limite o resultado é bastante visível. estamos cheios, não queremos mais. o mesmo acontece noutros aspectos menos biológicos? às vezes sou assombrada, por exemplo, por um já chega em relação à minha profissão. não sei se é só nesta parte do mundo mas sou vista como um bicho ignorante que utiliza softwares engraçados. maior parte dos meus clientes trata-me como se fosse estúpida. literalmente. quando eles é que são os estúpidos. dizem-me que é impossível eu levar tanto tempo ou tantos dias a fazer um logótipo. numa tarde isso fica despachado. pode ser verdade como pode não ser. se hoje estiver para ai virada, sou capaz de, em duas horas ter um logótipo. senão, tenho de esperar que me apareça a inspiração divina da santa criatividade. o padrão é sempre o mesmo e a vontade mais regular. apetece mandá-los todos para a merda e dizer façam vocês. há duas semanas tive uma reunião com um alemão que abriu duas empresas aqui no dubai. uma de iluminação e outra de catering. os nomes têm um elemento em comum e ele queria que eu criasse um logótipo que os identificasse como parte de um mesmo todo. enviei-lhe um orçamento personalizado, como faço em todos os potenciais clientes - e na segunda reunião ele quis negociar o preço. a ameaça do bacano era "I can go on freelancer.com and hire someone that will do me the whole project for 100 dollars". ora, ele repetiu esta frase quatro vezes no espaço de 20 minutos. meus caros, o que é que dá vontade de dizer? "então vai ao freelancer.com e pára de desperdiçar o meu tempo". como é óbvio não disse, tentei explicar-lhe que é por causa desses cabeçudos que se vendem por tão pouco que o mercado está como está. que o meu trabalho é valioso e não é qualquer bichano que o faz. lá conseguimos acordar um valor final adequado à vontade de cada uma das partes e eu comecei a trabalhar no projecto para ele. a ideia é fazer um conjunto de objectos portanto a nossa relação quer-se próspera. não deixa de ser frustrante ter de negociar os preços que pratico e que me permitem pagar as contas que tenho. acham que são capazes de eles próprios fazer o que eu faço? então façam meus amigos. façam.

nota: eu sei que há imensa gente nos sites de freelance que pratica os preços que pratica porque para eles é o suficiente para uma semana - ou mais - de alimentação e afins. mas tendo noção disso e sabendo quem eu sou e de onde venho, gostava que percebessem que os valores que aplico vão de encontro às despesas mais básicas que eu tenho.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

um ano cheio de vida!

é verdade. faz hoje um ano estávamos no aeroporto de heathrow à espera do voo que nos encaminhava para a nossa nova casa. cansados, nervosos, entusiasmados, assustados. posso denominar muitas formas de estado. mas nenhuma caracteriza aquilo para o que vínhamos. a minha vida mudou, não sei se para melhor, mas para algo mais. lembro-me perfeitamente da sensação que tive ao olhar pela janela do avião antes de aterrar, a primeira vez que andei nas estradas da cidade e a primeira impressão com que fiquei disto: não gosto! a cidade é feia, é um construction site constante e não me absorve. ainda hoje mantenho a minha opinião, apesar de ter boas sensações de tempo a tempo. ainda não acredito que estou a viver no dubai e que por aqui vou ficar mais algum tempo. é uma experiência surreal, brilhante, frustrante, enaltecedora, sincera e triste. triste porque estou longe de casa, da minha família, dos meus amigos. triste porque não é uma cidade para mim e, como o amor da nossa vida, quando a vir vou saber. um ano cheio de altos e baixos, um ano cheio de emoções, complicações. mas acima de qualquer uma das experiências anteriores, um ano cheio de vida! não sei se mudaria algo ou não, se voltava o tempo atrás, se soubesse o que sei hoje voltava a fazer. mas sei que o fiz e que ainda cá estou para contar os 364 que foram e os que virão. pelo menos sei que vou daqui com uma perspectiva diferente do que é um país, uma etnia, uma cultura (ou várias) e com uma melhor noção do que eu sou, aquilo que consigo aguentar e aquilo que consigo fazer. porque quando estamos longe de casa, intensifica-se o valor.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

life in the middle east #19.1

e ainda sobre o post de aturar os locais desta terra, quem teve um ataque nos últimos dias, pela primeira vez, não fui eu que estou sempre com um pé fora e a mala arrumada na cabeça. é verdade, as coisas são muito complicadas e sem excepção há sempre algum problema que surge do absoluto nada. problemas nada controláveis e dificilmente contornáveis. o manel dizia-me há uma semana que a vida tem de ser assim e é uma constante excitação. ser, é, mas deixa-me ansiosa maior parte do tempo. sem saber com que dinheiro é que vamos chegar ao final do mês e afins. aguentamo-nos bem e, verdade seja dita, até certo limite temos a ajuda dos nossos pais. mas aqui é questão é querermos fazer por nós. sabe bem ter a capacidade de pagar uma casa e usufruir dela. ir ao supermercado e trazer comida paga por nós. mas já me estou a desviar do objectivo disto tudo. o ataque foi algo intenso e quando trocamos de posições, eu sou mais assertiva que ele. que há confusões, há. que as pessoas não querem saber, não. mas está em nós, como indivíduos e como casal ultrapassar isso e não desistir. fui forte e enfrentámos os dois o ataque. com conversa, compreensão e a ouvir. assim é que chegamos a algum lado. quero espremer mais um bocado do leite aqui para depois ir virar rabinho para outras freguesias, também longínquas!

penso em ti todos os dias*

há um ano atrás acordei por volta das 9h30 com o meu telemóvel a vibrar para uma das piores notícias da minha vida. a minha avó tinha morrido durante aquela noite. instantaneamente comecei a negar, chorar e gritar. estava a dormir em casa do manel, em lisboa, e não queria acreditar que aquilo tinha acontecido. dias antes tinha decidido vir para o dubai e a minha avó era das poucas pessoas a quem eu queria contar e partilhar um novo começo na minha vida. o dia foi passado entre choros e decisões. duas primas suecas iam apanhar o voo e eu e o meu primo ficámos encarregues de esperar por elas para depois seguirmos caminho para lagos. elas chegaram bastante tarde e fui eu a conduzir. chegamos por volta das 2 e meia e fomos a correr a casa do meu avô, que mora à minha frente. pela primeira vez na minha vida vi o rochedo que é o meu avô cair aos pedacinhos. começou a chorar compulsivamente à nossa frente a dizer "perdi a minha menina". nunca nada foi tão doloroso como aquilo. ver o meu avô a chorar e pensar que nunca mais ia ver a minha avó. quase não dormi nessa noite e os dois dias seguintes foram passados na capela, ao lado dela, a relembrar todos os bons momentos que partilhámos. netos, filhos e marido receberam visitas e visitas e condolências e condolências. foi a primeira vez que fui capaz de estar na capela e ficar ao lado de alguém num caixão. não conseguia admitir que a minha avó tinha morrido. no dia do funeral não me contive e quem chorava sem parar era eu. como é que é possível estar num sítio onde a minha avó não está. durante todo este ano uma parte de mim esteve (e continua) constantemente com ela. tenho ataques de choro repentinos e quando vou a portugal tenho um segundo de pensamento onde ainda acho que a vou ver. a morte é sempre uma questão difícil de aceitar. ainda hoje, passado um ano, tenho dificuldade e acho que nunca vou deixar de ter.