quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

fauna criativa

às vezes gostava de escrever um livro sobre uma nova espécie de trabalhadores que se intitulam de intermediários. aqui no dubai lido muito com eles. são pessoas que fazem a ponte entre o cliente e o designer, neste caso tornando-se os próprios intermediários os clientes dos designers. até aqui nada poderia passar-se de mal. o problema é que este espécime não entende absolutamente nada de design, de qualquer tipo de actividade associada ao design, que os coloca numa posição onde só sabem fazer briefings de coisas criativas. nós perguntamos aspectos mais específicos do trabalho que nos é proposto e eles respondem firmemente que querem algo criativo, original, diferente. mas depois quando enviamos o que temos em mente eles conseguem ser ainda mais específicos: queremos algo ainda mais criativo e não era bem isso que tínhamos em mente. perguntamos o que é que têm em mente e eles respondem em tom muito baixo não sei. ora muito obrigadinha pela ajuda. querem algo criativo, que não era bem o que estavam a pensar, mais criativo ainda. aprendam. aprendam e façam-me o favor.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

reviravolta

ontem à noite fomos visitar uma família amiga que ainda não tínhamos visto desde que chegamos. começou tudo como uma relação comercial que depois se intensificou. tornámo-nos amigos. eles sendo latinos assemelham-se em muito a nós e acabam por ser uma espécie de família que temos por cá. entre conversas e desconversas (e só para vos contextualizar, eles têm muito dinheiro. muito, muito dinheiro. qualquer coisa que não consigo imaginar) soubemos que o filho mais velho, que acabou de tirar a carta de condução, vai receber como primeiro carro um lamborghini. a indecisão dele estava na cor, azul ou amarelo. a mãe orgulhosa do filho disse-nos que achava que ele devia escolher o amarelo e ele estava inclinado para o azul. eu que não percebo muito de carros de luxo desportivos limitei-me a sorrir e ficar contente por ele. já o manel ficou mais indignado. a minha e a família dele têm valores bastante semelhantes e somos todos apologistas que o primeiro carro que um recente condutor deve ter, deverá aparentar o aspecto de um carro prestes a ir para a sucata. para podermos fazer os estragos próprios de quem aprende a conduzir. para além disso, o que também causou alguma urticária ao manel foi o facto de, o lamborghini ser o topo de gama dos carros. passo a explicar, normalmente, começamos num qualquer chaço para passarmos para um melhorzinho, quando somos pais se calhar adoptamos uma carrinha e eventualmente se as finanças o permitirem e continuarmos a subir na vida chegará o dia em que o sonho automóvel de uma grande maioria dos homens pode ser concretizado. mas com esforço, dedicação, trabalho e muitas, muitas noites acordado. neste caso, um miúdo de 18 anos vai tê-lo de bandeja. percebo a confusão do manel, mas não deixa de ser uma realidade paralela à nossa. a que não estamos habituados e que normalmente nem se cruza. que nós saibamos ele não fez nada para merecer mas está no seu direito de receber uma prenda dos pais. não posso julgar porque não faço parte de aglomerados que esbanjam dinheiro como se não houvesse amanhã enquanto eu tento dar o meu máximo para pagar as contas da casa todos os meses. não se pode comparar. não há remota possibilidade disso. e engrenamos numa ligeira discussão por causa do assunto. e digo-vos que conhecendo o que conheço, prefiro os valores que partilho com o manel que quaisquer valores que esta criança possa ter. nós somos habituados a merecer aquilo que temos e a não assumir que as coisas caem do céu. nunca me pude queixar da vida que tive e que os meus pais me permitiram ter. pelo contrário, e acho que eles sabem o quão grata me sinto e me sentirei sempre. mas também sabem a filha que aqui têm e a noção de realidade que ela tem. e este menino não a tem. é completamente dependente das capacidades dos pais. é boa pessoa mas há qualquer coisa que falhou no crescimento dele, na forma como ele lida com o mundo. mas isso são outros problemas.

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

15 de janeiro de 2012

foi o último ano que a minha avô celebrou o aniversário. não me sai da cabeça que não estive com ela nesse dia. não me sai da cabeça que fiquei em lisboa para enviar currículos e portfolios. não me admito esse grande, grande erro. ainda me lembro da última vez que estivemos todos juntos. os netos, os filhos, o marido e ela. foi uma semana antes de ela sair do hospital. na sala de visitas. o quão bem disposta ela estava. antes de completar um mês do aniversário, morreu. morreu e foi das vezes que mais chorei na vida. foi uma das pessoas que mais me custou perder e ainda hoje não acredito que quando vou a portugal não a vou ver. nunca me dei bem com o meu avô, ele sempre teve aquele comportamento de que os homens são mais importantes portanto qualquer coisa que eu faça é-lhe praticamente irrelevante. quem sempre me foi querida foi a minha avó porque eu era a menininha com quem ela mais tinha contacto e relação. passou-me a paixão pelas malas. adorava malas. adorava comprar-me malas. e hoje quando penso nela fico triste e de cada vez que penso nela choro, porque tenho tantas saudades e não me cabe o mundo sem ela. não me parece funcionar bem e se querem que vos diga, não tive tempo para absorver o que se passou, nem para realmente ultrapassar. dois dias depois do funeral já cá estava e sinto que fugi um bocado. fugi à responsabilidade de sentir verdadeiramente a perda da minha avó. a vida continuou menos real. parece-me temporário. tudo só para dizer que tenho saudades da minha avó.

domingo, 13 de janeiro de 2013

eu sei uma coisa que tu não podes saber

todos nós temos o bichinho da partilha. ontem a ver uma série - e das minhas preferidas - três das personagens tinham um segredo que queriam/não queriam partilhar com os restantes amigos. afinal de contas partilharam e os espectadores deram uma boa gargalhada. ora bem, analisando a situação, todos somos um bocado assim. mais ou menos que os outros, mas somos. gostamos de ser os primeiros a partilhar uma novidade, uma cusquice, uma notícia chocante ou bombástica. quando contamos alguma coisa a alguém temos de ter a noção que essa pessoa vai de certeza contar a outra, que vai contar a outra, que vai contar a outra. eu venho de uma cidade relativamente pequena onde, no tempo que andava por lá, tinha muitos amigos e conhecidos e quando acontecia algum escândalo, era impossível que ele ficasse na penumbra. daí eu ser bastante selectiva com as coisas que conto e a quem, agora. se vejo a forma como as pessoas agem comigo, de me vir contar ou não novidades alheias, faço o mesmo. e não é por ter vergonha. mas porque às vezes se quero contar alguma coisa a determinada pessoa, é porque quero que só ela saiba. eu também sou o mesmo, não ando aqui a enganar ninguém, mas tenho o cuidado - pelo menos mais recentemente - de contar o que me contaram a pessoas que absolutamente nada têm que ver com o assunto que me foi contado. ou seja, alguém que não possa contar a alguém que conheça quem me veio contar, evitando situações desconfortáveis. a pessoa a quem eu conto até pode não conhecer nem saber quem é a que me conta. mas de qualquer forma, há coisas que é preciso desabafar. e por já terem desabafado comigo já dei as maiores e melhores gargalhadas, já chorei, já simpatizei. 

domingo, 6 de janeiro de 2013

life in the middle east #18

a ressaca das férias, de casa, dos pais e do cão começa agora a tornar-se mais suportável. finalmente tive dois dias que me fazem sentir em casa. ontem prestámos uma visita ao IKEA para gastar algum dinheiro de natal especificamente orientado para objectos domésticos. complementado com um almoço de almôndegas suecas, riso, namorado e amiga, a combinação foi explosiva. entre cusquices e parvoíces jantámos entre amigos e jogámos ao famoso ring of fire. preparação imbatível e meio caminho andado para o famoso rockbottom. entre danças, bilhar e meia cerveja, acabamos a noite em semi after party. quatro elementos aqui em casa, incluindo eu e o manel, com direito à vista da piscina, um eu nunca e mais parvoíce. o dia de hoje posso garantir que foi nulo. não fizemos nada. continuado aqui em casa, os mesmos quatro, a dizer baboseira atrás de baboseira, a semi ressacar. a tarde acabou com uma reunião de trabalho - alguma coisa tinha de fazer para não me sentir mal - e uns óptimos reforços e incentivos direccionados ao meu profissionalismo. acho que gostamos todos quando as coisas correm bem, ou pelo menos começam.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

mil e muito

mais uma vez encontro-me empanada para começar um trabalho. para além de falta de motivação e inspiração, não me surge criatividade. este ano começou com falta de muita coisa. será que me está já a castigar por não ter feito resoluções? por ainda não ter ido ao ginásio? mil e muitas ideias me passam pela cabeça, mas nenhuma vem para ficar. tenho vontade de tudo e de tão pouco. hoje ainda não sai de casa e o dia por cá pareceu-me agradável. já é de noite e são só seis e 15. pelo menos já aprendi algumas coisas hoje. e fiquei a saber que as pessoas com mais sucesso na vida mantêm um diário - género de coisa que este estaminé é para mim. quero muito, muito sair deste poço e isso só depende de mim. enfrentar a situação como uma fase e pensar que já passa. está fácil não. o melhor remédio suponho que seja botar o nariz para a frente minha gente.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

dia dois de dois mil e treze

tenho-vos a dizer que, mesmo o ano tendo mudado, continuo com insónias. ontem prolongaram-se até às 5 e quase meia da manhã. vi um filme, cinco episódios de uma série, li. nada. o sono só começou a aparecer perto das 5. desde que cheguei ao dubai ainda não dormi uma noite decente e agora estou a tentar aguentar-me para não fazer uma sesta e ter sono à noite. acho que a probabilidade vai ser reduzida mas tenho tido noites completamente brancas. acabo por acordar irritadiça e sem vontade de fazer nada. estou completamente desregulada e nem ando a comer direito. o ano novo não trouxe motivação ou vontade para fazer seja o que for. só pouca paciência e uma afluência maior aos principais shoppings do médio oriente. o reveillon foi engraçado, mas passar com pessoas que não conheço acaba por me fazer ceder ao álcool. isto numa tentativa de facilitar o processo de sociabilização. o manel exagerou na cedência que o colocou aos meus cuidados até ontem. passamos literalmente o dia a marinar e recuperar. eu fiquei bem a partir do momento que me apercebi que tinha de conduzir nas estradas repletas de pessoas e polícia. a criança não estava nem de perto consciente para poder manusear máquinas pesadas. foi um físico carregá-lo e deitá-lo, mas algum dia teria de retribuir o favor. preciso de apanhar o ritmo, retomar a minha rotina, o exercício, a leitura, o design.