sábado, 10 de setembro de 2011

querida mãe!

gostava que soubesses as coisas que se passam comigo. tudo aquilo que gostaria de dizer e não digo. tudo aquilo que não conto a outros e gostava de te contar. mas o tempo, a distância e a nossa relação e experiência impedem-me. tenho sempre uma vozinha na cabeça a pairar não lhe digas, não lhe digas, sssshhhhhh. há coisas que me saberiam bem contar-te porque mãe deveria ter desses privilégios, saber o que todos os outros não sabem. não é por falta de vontade, vergonha, mas há coisas que tu passas bem sem saber. ontem, quando fomos jantar e bebemos as duas um copinho de vinho, soube-me a qualquer coisa de boa. qualquer coisa de apetecível. pareceu-me uma boa dinâmica. nada daquela que costumamos ter. que tu me dizes que estou gorda ou que não me dedico suficientemente à tese. gostava de ter memórias de criança para nunca me esquecer da maneira como me tratavas quando era inconsciente e não te podia responder. gostava que soubesses o quanto gosto de ti e te vejo a entrar num poço sem saída e eu, que te digo e tu não me ouves porque achas que sou mais nova, que nada sei da forma como tu és. a única vez que me pediste desculpa e disseste que gostavas de mim partilhávamos lágrimas bem grossas de tristeza e foi dos melhores momentos da minha vida. porque acima de tudo, és a minha mãe. a minha para sempre mãe, que me cozinha peixe, sopa e faz pudim e biscoitos. que sabe o tipo de roupa que eu gosto. mas apesar disso, deixaste de saber quem eu sou e na pessoa que me estou a tornar. de saber aquilo que eu sou capaz de fazer e aguentar. e tenho muita pena. porque se soubesses o potencial que tenho, percebias que já não sou a criancinha com 17 anos que saiu de casa. mãe deveria ser sempre mãe.

beijinho.

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