ontem à noite fomos visitar uma família amiga que ainda não tínhamos visto desde que chegamos. começou tudo como uma relação comercial que depois se intensificou. tornámo-nos amigos. eles sendo latinos assemelham-se em muito a nós e acabam por ser uma espécie de família que temos por cá. entre conversas e desconversas (e só para vos contextualizar, eles têm muito dinheiro. muito, muito dinheiro. qualquer coisa que não consigo imaginar) soubemos que o filho mais velho, que acabou de tirar a carta de condução, vai receber como primeiro carro um lamborghini. a indecisão dele estava na cor, azul ou amarelo. a mãe orgulhosa do filho disse-nos que achava que ele devia escolher o amarelo e ele estava inclinado para o azul. eu que não percebo muito de carros de luxo desportivos limitei-me a sorrir e ficar contente por ele. já o manel ficou mais indignado. a minha e a família dele têm valores bastante semelhantes e somos todos apologistas que o primeiro carro que um recente condutor deve ter, deverá aparentar o aspecto de um carro prestes a ir para a sucata. para podermos fazer os estragos próprios de quem aprende a conduzir. para além disso, o que também causou alguma urticária ao manel foi o facto de, o lamborghini ser o topo de gama dos carros. passo a explicar, normalmente, começamos num qualquer chaço para passarmos para um melhorzinho, quando somos pais se calhar adoptamos uma carrinha e eventualmente se as finanças o permitirem e continuarmos a subir na vida chegará o dia em que o sonho automóvel de uma grande maioria dos homens pode ser concretizado. mas com esforço, dedicação, trabalho e muitas, muitas noites acordado. neste caso, um miúdo de 18 anos vai tê-lo de bandeja. percebo a confusão do manel, mas não deixa de ser uma realidade paralela à nossa. a que não estamos habituados e que normalmente nem se cruza. que nós saibamos ele não fez nada para merecer mas está no seu direito de receber uma prenda dos pais. não posso julgar porque não faço parte de aglomerados que esbanjam dinheiro como se não houvesse amanhã enquanto eu tento dar o meu máximo para pagar as contas da casa todos os meses. não se pode comparar. não há remota possibilidade disso. e engrenamos numa ligeira discussão por causa do assunto. e digo-vos que conhecendo o que conheço, prefiro os valores que partilho com o manel que quaisquer valores que esta criança possa ter. nós somos habituados a merecer aquilo que temos e a não assumir que as coisas caem do céu. nunca me pude queixar da vida que tive e que os meus pais me permitiram ter. pelo contrário, e acho que eles sabem o quão grata me sinto e me sentirei sempre. mas também sabem a filha que aqui têm e a noção de realidade que ela tem. e este menino não a tem. é completamente dependente das capacidades dos pais. é boa pessoa mas há qualquer coisa que falhou no crescimento dele, na forma como ele lida com o mundo. mas isso são outros problemas.
porra falo por mim se o meu primeiro carro tivesse sido um lamborgini (não sei escrever isso) então das duas uma: estava morta ou com uma conta abismal para pagar.
ResponderEliminarisso é a nossa realidade!
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