quarta-feira, 17 de outubro de 2012

uma coisa tão nossa

ontem foi dia de portugalidade aqui no dubai.

finalmente abriu um tão esperado restaurante que nos prometeu comida como a que casa da mãe. bacalhau, sardinhas, polvo, batatinha a murro, arroz de marisco, frango assado. uma boa parte daquilo que costumamos comer está no menu. e posso dizer-vos que, pela primeira vez desde que cá estou, me deliciei com as iguarias da minha terra. o polvo estava uma coisa divinal, o bacalhau com natas ainda melhor e a companhia fora de série. quero ir ao restaurante de tempo a tempo só para conseguir ter o gostinho do que é a comida do meu país. fotos não se tiraram tal não era a emoção de comer.

sábado, 13 de outubro de 2012

by night

também gostava de vos contar uma história que já se tornou um bocado comum demais aqui no dubai. para quem não sabe, e eu antes de vir para cá não fazia ideia, esta cidade é bastante ocidentalizada. há o lado em que vemos os locais completamente dedicados à sua religião e tudo o que ela implica e o lado onde vemos pessoas semi-nuas nos bares. a oferta é bastante e há sítios, pelo que dizem, que são conhecidos por serem frequentados por prostitutas, numa percentagem de 80%. há vezes que o fenómeno é evidente (para mim) e outras que nem tanto. porque se formos a um bar comum, as meninas que lá estão aparentam todas uma certa falta de acesso a tecido. ora, há uma variedade de escolha agressiva que é óptima para quem é solteiro. pessoalmente, não desejava ser solteira aqui e há quem tente não ser a todo o custo. aqui reside o problema. as meninas procuram meninos que pensam que pode vir a ser o tal ou que tem potencial de namorado. na primeira noite circundam unicórnios e nascem arco-íris porque ele parece perfeito. acabam a noite no vale dos lençóis e com memória lusco-fusco do bom ou mau que foi o momento. entretanto passam dias que o menino não diz nada e a menina conjectura na sua cabecinha o que poderá ter feito de mal ou o que se estará a passar para o menino não responder ao bbm, às mensagens, aos comentários de facebook. até que se vê o menino com outra menina - esta com as mesmas expectativas - e é-lhe varrido o chão como se o tornado passasse e ela estivesse mesmo no meio. apesar de todos os avisos, sinais e o que quiserem considerar que a alertasse para a situação, a menina decidiu que aquele, por ser mais ou menos giro e bom na cama tem algo para lhe dar, quando é óbvio que não é assim. mas passado uns tempos, o menino vê-se sem companhia e acha por bem ir fazer mais juras de amor e que está mudado. dá vontade de perguntar ao menino onde é que ele guarda o livro das frases manhosas para citar a tudo o que é rabo de saias. porque aqui não há selecção. é o que vier à rede. parece difícil de acreditar mas garanto que pelo menos há sempre espectáculo para assistir. não gosto é quando é alguém que eu conheço. que também já aconteceu.

knock knock

se há coisa que eu não gosto é deixar de escrever por estes lados, mas quando o trabalho e a vida real se põem, não há volta que se lhe dê. sinceramente também não tenho muito de interessante para contar. que tenho tido trabalho? que fiz pela primeira vez compras com o meu dinheiro, sem ter de pedir ao papi ou dar explicações? que já não saía há uma semana e na quarta nem me lembro da noite? que quinta foi um dia aterrorizador onde nem consegui comer? que sexta foi só ronha e un peux de trabalho e mega limpezas? posso continuar meus amigos. mas a desinteressantisse é tal que acho que não vale a pena. amanhã já é domingo e o começo de outra semana.

num cenário completamente descontextualizado estou a pensar acabar com isto. hm.

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

#1

não vos consigo explicar a sensação que é ver o meu trabalho impresso. num espaço de 1 minuto vi o meu primeiro catálogo impresso no dubai. o cliente levou-o logo mas domingo vou buscar um segundo e tirar umas merecidas fotografias. queria ficar com um para mim mas não dá. é demasiado caro e acho que as fotografias são suficiente. prometo mostrá-las aqui. só queria partilhar o pedacinho de felicidade no meu dia :)

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

life in the middle east #17

faltam-me as palavras exactas para descrever o dia de hoje. horrível? terrível? impossível? perto de um filme de terror?

certo, não foi assim tão mau, mas foi mau. começou bem cedo, perto das 8:30 da manhã com um despertar um bocado custoso. passei a noite a sonhar com sabe-se lá o quê e dormi mal. levantei-me já atrasada para uma reunião às 10. mas uma coisa que secalhar não sabem é que a reunião era a 40 minutos da minha casa. ainda dentro do dubai. mas longe para caralho. chegando lá ainda tivemos de procurar o edifício de entre os 30 iguais. consegui não chegar atrasada. acabada, fomos ao banco tratar de assuntos do manel. banco este no lado exactamente oposto de onde estávamos. mais uns 40 minutos de caminho. e tendo em conta que é na parte antiga do dubai, mais semáforos que as mães. isto tudo entre telefonemas e chamadas não atendidas. depois do banco tive de ir a uma gráfica imprimir os meus cartões de visita e do manel e à espera que um cliente se decidisse a atender-me o telefone para dar o sim na impressão da capa. foi meia hora na gráfica. consegui vir a casa almoçar e não conseguia parar de comer, tal era a larica. respondi a emails, fiz e recebi mais telefonemas e sai de casa para outra reunião. mais meia hora de caminho para cinco minutos de conversa. de lá, fui para casa de um cliente com quem estou a trabalhar, uma família cinco estrelas, onde fiquei mais 3 horas. depois disto tudo ainda me meti no trânsito para ir buscar o manel, um túnel interminável cheio de árabes e indianos impassíveis e vim para casa.

pensava eu que já tinha acabado.

ia lavar a frigideira para fazer o jantar mais tarde. a frigideira tinha água dentro para retirar os restos do que lá foi feito ontem. entornei tudo no chão. não vos vou dizer o que disse nem como disse, mas alguma coisa abanou naquela cozinha do inferno. para me acalmar, pus-me a fazer limpezas e relaxei. vou agora jantar, às onze da noite, ver uma série e ler, que olhar para a minha maçã já não dá mais hoje.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

(r)evolution

este canto anda demasiado parado para meu gosto. não sei bem o que vos escrever. hoje também não é bom dia porque foi repleto de abalos sísmicos ao meu trabalho e à minha confiança. as pessoas não querem prestar elogios ao que faço ou pagar adequadamente o esforço que ele implica. há demasiados indianos e filipinos a fazer os trabalhos por um quarto do preço que eu que o faço a um quarto do preço de qualquer agência nos emirados. não deixo de ficar ansiosa e nervosa e implicativa porque também não tenho grande leverage sobre as pessoas e empresas com quem trabalho. ao final do dia também preciso do dinheiro e apesar de saber que dou o meu melhor, também sei que não sou compensada por isso. mas também não estou em posição de reclamar porque em portugal as notícias são pouco ou nada animadoras. toda a gente com quem falo está à procura de trabalho e presos a uma vida que não esperavam. é preciso termos consciência que somos a geração do faço qualquer coisa desde que seja pago. a ideia de um emprego seguro já não existe e para a vida então muito menos. nunca sabemos quem já não é um bem essencial à empresa. a minha mãe está bastante preocupada e cada vez que falamos o assunto é basicamente esse. eu tento arranjar-me para não pedir dinheiro aos meus pais, e cá vou conseguindo. não imagino ter de voltar para casa e batalhar para encontrar seja lá o que for. porque apesar de tudo sei que os freelance não são abraçados como cá.

apanhei-me num dia frustrado, com planos e sonhos rasgados e ideais jogados pela janela fora. queremos sempre mais e melhor para nós mas as oportunidades são demasiado escassas. nem o esforço e suor compensam ou são suficientes para provar o quão bons podemos ser. todos os dias sou relembrada da crise do meu país e todos os dias vejo o meu regresso afastar-se mais. e mais. e mais.