amanhã são dois. trezentos e sessenta e cinco mais trezentos e sessenta e cinco. nunca pensamos nestas coisas. gostamos de imaginar mas quando menos esperamos elas chegam. não foi planeado e muitas vezes revejo o primeiro dia na minha cabeça. lembro-me que começou tudo com uma aposta. conheço-o desde pequena, éramos amigos e brincávamos juntos. os nossos pais também sempre se conheceram. o que tornou as coisas mais estranhas. ao longo dos anos deixámos de nos dar mas sempre existiu o "olá" ocasional. sendo da mesma cidade e essa cidade sendo pequena, acabamos sempre por ver toda a gente. considerava-o uma paixão platónica. sempre que o via ficava intimidada. e nunca imaginei que alguma coisa pudesse acontecer. lembro-me de amigos me mandarem mensagens em noites que eu não saía a dizer "ele está aqui no bar tal" ou "acabou de entrar o manel". ficava odiosa de ter ficado em casa. anos disto. até que há dois anos, pela segunda vez, trocámos de números de telefone. falávamos ocasionalmente por mensagem. sendo jogador profissional passava algum tempo fora. nunca lhe liguei muito. das vezes que falámos, acabei por convidá-lo para ir ao sudoeste. disse-lhe que ia e a conversa que me deu dava a entender que se estava a fazer de convidado. e nunca mais pensei na situação. chegando o sudoeste 2010, o meu telemóvel decidiu dar das suas e deixou de funcionar. tentámos encontrar-nos durante os três primeiros dias e nunca resultou. falhava a bateria ou não estávamos no sítio onde dizíamos. até que ao quarto decidi pedir um telemóvel emprestado - por sinal ao amigo com quem fiz a aposta - e ele passou o dia connosco. fomos ao pego das pias, fiz-lhe o jantar e, há falta de companhia, foi comigo ver o concerto do mika, sugababes e afins. entre conversas, cervejas, sorrisos e flirts, beijámo-nos. não sei ao som de que música. deixei de ouvir e tudo se tornou um pano de fundo. as semanas que se seguiram só nos víamos aos fins de semana. eu de férias em lagos e ele a treinar em lisboa. falámos todos os dias. telefonemas, mensagens. aos fins de semana estávamos juntos. mas nunca esperei muito daquilo. achei que era um fling de verão. as minhas amigas podem comprovar. até que um dia, depois de ter ido para a croácia jogar torneios, lesionou-se. e sem eu saber, apareceu-me à porta de casa, com um papelinho relativamente plagiado do californication, mas não menos fofo. comecei a chorar e a partir daí foi história. comecei a dedicar-me ao que me pareceu ser uma oportunidade única. e ele assim a considerou também. dois anos mais tarde estamos juntos, a partilhar a vida e um apartamento no dubai e, com os seus altos e baixos, não poderia estar mais feliz. sem qualquer expectativa do futuro, não vou aqui pedir mais dois anos assim, mas esperar que os dias aconteçam, que as coisas se desenrolem. e mais crescida, mais madura, mais vivida, digo-te com todo o meu coração que não és só a pessoa da minha vida agora, mas sempre e para sempre. porque por mais coisas que aconteçam, vamos sempre ter o médio oriente. e por isso, não há palavras.
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